Segundo estudo, é recomendável investir na silvicultura de árvores nativas
Com o clima que vem prejudicando o país, é cada vez mais urgente que o Brasil invista em Pesquisa & Desenvolvimento (P&D) para que suas espécies de árvores nativas possam avançar rumo à restauração florestal. Chamada de silvicultura, deste modo também surgiria um novo modelo de desenvolvimento que protege as florestas, principalmente a Amazônia, além de originar empregos e renda aos produtores. A afirmação é da WRI Brasil, que realizou um estudo que foi publicado no dia 4 de outubro.
Silvicultura na prática
Chamado de “Research gaps and priorities in silviculture with native species in Brazil”, o estudo revela que o Brasil se comprometeu a restaurar 12 milhões de hectares de florestas até 2030. Além disso, o país também busca entender quais são os fatores que precisam ser solucionados para que a silvicultura com espécies nativas se torne um caminho viável para que projetos de restauração saiam do papel.
A pesquisa ressalta ainda que existem muitas lacunas a serem preenchidas em relação ao conhecimento técnico e científico necessários para o plantio de árvores nativas. É o caso de sementes e mudas, para que tenha melhoramento genético ou manejo. Com isso projetado, os autores do estudo conseguiriam determinar o custo-benefício do projeto, além dos benefícios econômicos, se o país passasse a investir em P&D.
Resultados
Para que haja um resultado já promissor, o investimento seria baixo para que a silvicultura de nativas avançasse. O valor percentual de aproximadamente 0,04% do investimento total brasileiro seria destinado a esta pesquisa.
Com a captação de recursos, e ter em mente uma escala de plantio de 10 mil hectares (quantidade pequena, se levar em conta o tamanho do território nacional), o estudo aponta que a silvicultura de nativas é capaz de trazer retorno financeiro. Já a pesquisa de custo-benefício indica que o retorno de investimento pode ser de US$ 2,36 para cada dólar investido, no decorrer de 20 anos. Sobre isso, um dos autores do estudo da WRI Brasil, Alan Batista, afirma:
“O estudo mostra que há demanda por madeira tropical, e que a silvicultura com espécies nativas pode atender essa demanda com lucratividade, impulsionando a restauração. Mas para isso é necessário investir em P&D para desenvolver essas espécies”.
Silvicultura e a proteção das florestas naturais
Fora o retorno econômico, a silvicultura também traz benefícios ambientais, que abrangem desde a restauração de áreas degradadas até a captura de carbono da atmosfera nas árvores, que auxilia no controle das alterações climáticas.
Segundo o diretor de Florestas do WRI Brasil, Miguel Calmon, que também é coautor do estudo:
“Plantar árvores em áreas hoje degradadas, com o manejo adequado, vai permitir ao produtor rural produzir madeira de alta qualidade e valor econômico ao mesmo tempo que gera serviços ambientais, como proteção do solo e preservação das nascentes”.
Além disso, outra vantagem da silvicultura de espécies nativas é de amenizar a pressão sobre as florestas tropicais. Hoje, calcula-se que 50% da madeira vendida no mundo e 70% na Amazônia são produzidas ilegalmente, o que ocasiona a destruição da floresta em muitos casos.
Portanto, ao produzir madeira através do plantio de árvores nativas e do manejo florestal, o produtor estará colaborando para a inserção de madeira legal e de qualidade no mercado, deixando de influenciar o desmatamento das florestas naturais.
Espécies prioritárias
É preciso ressaltar que tal investimento em pesquisa e desenvolvimento não é algo inviável, ele já foi implantado para as espécies exóticas. As indústrias do eucalipto e pinus têm investido em melhorias de espécies para sua produção nos últimos 40 anos, atingindo grandes resultados.
Além disso, os autores do estudo recomendam que o mesmo possa ser realizado para as árvores nativas. Em vista da dificuldade de competir no mercado com a madeira ilegal retirada de florestas primárias, a análise indica a criação de uma Plataforma de Pesquisa & Desenvolvimento.
A intenção é que essa plataforma, desenvolvida em parceria pela Coalizão Brasil Clima, Florestas e Agricultura e com apoio do próprio WRI Brasil, possa captar investimento público ou privado, para destiná-lo a uma pesquisa ainda em etapa pré-competitiva. Com isso, as tais lacunas de conhecimento das espécies serão supridas.
Espécies nativas mais promissoras
A iniciativa determina ainda que esses recursos sejam encaminhados às espécies nativas mais promissoras para a produção de madeira ou de produtos não-madeireiros. O estudo também identificou 15 espécies da Amazônia e 15 da Mata Atlântica, algumas delas presentes no Cerrado, que são árvores como a araucária ou vinhático, na Mata Atlântica, e o paricá ou andiroba na Amazônia.
Por meio desta pesquisa, também será possível desenvolver melhor o conhecimento científico dessas espécies, que pode impactar na melhor seleção de mudas e sementes. Com todos esses fatores solucionados, o estudo passaria a ser desenvolvido pelas empresas do setor.
Fonte: site Ciclo Vivo
*Foto: Divulgação