O setor de vestuário sempre se reinventa e uma das modas atuais é unir marcas de um mesmo grupo dentro do espaço físico da loja. Com isso, o ponto de venda em vitrine reúne várias outras, formando uma loja de multimarcas.
Multimarcas – novo conceito
Nesta nova empreitada, já foram lançadas versões de megastores ou flaships neste segmento. É o caso das grifes Morena Rosa (Morena Rosa, Iódice, Maria Valentino e Zinco), Rosset Têxtil (Valisère, Cia. Marítima e Triumph) e a Cia. Hering (Dzarm, Puc, Hering e Hering Kids).
As nomenclaturas dos espaços variam conforme o propósito de cada loja. No entanto, elas precisam manter a mesma função, que é a de servir ao consumidor como uma espécie de butique de departamento. Porém, com operações em menor escala e direcionado a públicos com poder aquisitivo maior.
Comparações
Na prática, é como fazer uma comparação com os grupos de luxo franceses LVMH e Kering, que decidiram criar o conceito de multimarcas ao juntar as grifes: Louis Vuitton, Dior e Givenchy, ou Gucci, Bottega Veneta e Balenciaga, num mesmo espaço físico.
No médio prazo, essa ideia de moda varejista pode corresponder até um terço de todo o negócio até 2021, afirma o dono da marca paranaense Morena Rosa, Lucas Franzato.
Batizado de Clube Morena Rosa, o espaço reúne as marcas citadas acima, e o negócio já representa 15% da receita. Desde 2017, o conceito levou à abertura de até 20 lojas por ano em esquema de franchising.
O grupo de multimarcas chamou a atenção do mercado e conquistou em 2019, o prêmio de melhor franquia da Alshop (Associação dos Lojistas de Shopping).
Franzato não revela o faturamento do negócio, mas afirma que este modelo meio “one stop shop”, onde o cliente resolve a vida com uma oferta de diferentes produtos de moda e serviços, pode ultrapassar o e-commerce em vendas. Ele afirma ainda:
“Comemos pelas beiradas. Nas grandes capitais não tínhamos o reconhecimento do nome Morena Rosa. Nosso foco sempre foi a multimarca e, quando recompramos o grupo (em 2015, da gestora Tarpon), fechamos as parcerias com aquelas cuja exposição do produto não conseguíamos controlar e passamos a assumir essa função.”
Ele enxergou no sucesso da loja multimarcas na Oscar Freire, em São Paulo, que o modelo de negócio podia se sustentar de fato.
Jeitinho brasileiro de gerir negócios
De acordo com Tito Bessa Jr., presidente da Associação das Lojas Satélites de Shoppings, esse jeito brasileiro de comandar os espaços de moda pode reduzir o percentual de até 20% do faturamento do lojista, que ele estima ser repassado para os centros comerciais:
“É uma diferença estrondosa comparado aos 4% que uma loja-âncora desembolsa. Quem planeja fazer isso quer benefício de custo operacional. Por que você acha que a Hering abriu uma megastore?.”
A Cia. Hering, abriu oficialmente o primeiro ponto de sua megastore, no Park Shopping de São Caetano, no ABC paulista, na intenção do cliente ver em um único local todas as suas marcas e assim encontrar produtos de outras etiquetas, como papelaria, moda praia e até “copos estilosos”.
Em janeiro deste ano, o grupo informou ao mercado que o faturamento do o último trimestre de 2019 recuou em 5,2% em comparação ao mesmo período de 2018. A justificativa para isso é sobre a retração do comércio nos canais multimarcas, que foi de 13%.
Destaques do varejo de multimarcas
Segundo Guilherme Machado, analista sênior da consultoria Euromonitor International, quem consegue se destacar no varejo de moda são as lojas de grande porte, o que explicaria o movimento das companhias em sofisticar produtos e locais de venda. A consultoria acredita que desde o grande baque do varejo, entre 2014 e 2015, época em que a quantidade de lojas no Brasil reduziu 6,5% e 7,8%, respectivamente, tendência como o segmento de multimarcas cresceu. E estas empresas entenderam bem o recado e mudaram sua rota de negócio no mesmo período.
Prova disso, é a loja Dona Santa, no Recife, que ampliou seu rol de serviços e passou a promover salão de beleza, pet shop, joalheria, floricultura e aluguel de espaços para marcas de luxo, o chamado “shop in shop”, para expandir o escopo de atuação.
A dona do empreendimento, Juliana Santos, lançou ainda marca própria, homônima à multimarca, com o objetivo de girar o fluxo de caixa. Com tíquete médio de R$ 600, abaixo dos R$ 1.200 das marcas que comercializa na loja, vendeu 68% do estoque em 45 dias, e já prepara para 2020 a abertura de lojas temporárias em São Paulo.
O modelo “one stop shop” adequado para o Brasil, em um formato “lifestyle” pode promover estilo de vida e se tornar cada vez mais comum para o consultor da Varese Retail, Alberto Sorrentino.
No entanto, ele ressalta que há um risco para esses grupos multimarcas, pois se uma delas não for bem nas vendas, ela puxa as demais para baixo, o que pode acarretar em um problema de estoque.
Fonte: Folha de S. Paulo
*Foto: Divulgação