Brasil é um dos países que menos investem em termos de economia

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Com a pandemia da Covid-19, um levantamento obtido pelo Estadão com o FGV-Ibre revela que o Brasil é um dos países que menos investem em termos de economia no mundo. Além disso, o país vinha de uma tentativa de recuperação dos efeitos da crise econômica anterior, de 2014 a 2016.

No estudo da FGV, ele colheu dados da Organização para a Cooperação e Desenvolvimento Econômico (OCDE). Então, as informações reveladas abrangem 31 economias avançadas e emergentes. E o Brasil ficou em quarto lugar como o país em que em, termos de economia, os investimentos mais retrocederam no segundo trimestre deste ano. Ele fica atrás apenas do Reino Unido, Espanha e Bélgica. Somado a tudo isso, por aqui ainda existe a questão da falta de infraestrutura.

Brasil é um dos países que menos investem

Na semana passada, dados sobre a economia e sua evolução foram divulgados pelo IBGE (Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística). O levantamento apresentou um recuo de 15,4% na taxa de investimentos no Brasil entre os meses de abril e junho, em comparação aos três primeiros meses de 2020.

Sendo assim, ficou evidenciada a formação bruta de capital fixo, ou seja, investimentos em ativos que expandem a capacidade da economia. Além disso, caiu para um cenário que corresponde somente a 15% do PIB. Isso é menor que a taxa de poupança do país, que ficou em 15,5% das riquezas no período.

Sobre isso, Marcel Balassiano, pesquisador da área de Economia Aplicada do FGV-Ibre, afirma:

“Pela primeira vez, entramos em uma recessão antes de recuperarmos as perdas de uma recessão anterior. Para falarmos de retomada dos investimentos, primeiro precisamos retornar ao nível de fevereiro deste ano (pouco antes de Estados e municípios determinaram medidas de isolamento social para tentar debelar o contágio da covid) e, depois, chegar ao nível do início de 2014. Só a partir daí poderemos falar em voltar a crescer.”

Estrutural

Ele ressalta que o Brasil se distancia dos demais países em termos de estrutura, em relação a seus investimentos. E que engloba razões conjunturais das últimas duas crises. No início da década passada, apesar do auge da taxa de investimentos, em torno de 21% do PIB, o país ainda estava abaixo de vizinhos latino-americanos, adiciona Balassiano:

“Nas décadas de 1980 e 1990, cerca de 70% dos países já investiam mais que o Brasil. Essa porcentagem subiu para 80% no começo deste século e agora já está em 90%. Não tem outro jeito, para crescer mais e gerar emprego, é preciso termos uma taxa de investimento maior. Estamos ficando para trás, e não é à toa que tivemos duas décadas perdidas nos últimos 40 anos.”

FMI

Segundo dados do FMI (Fundo Monetário Internacional), em 2019, o Brasil ficou em 16º lugar na lista das economias com as piores taxas de investimento, em relação ao PIB. No total, foram analisados 170 países. Em suma, 91% do mundo investiu mais que o Brasil.

O Brasil é um dos países que menos investem também, sobre tudo, a taxa do PIB em 2013, que atingiu 20,9%. Portanto, o índice impactou duramente a recessão dos anos seguintes, caindo para 15,4% no ano passado. Além disso, o Brasil também permaneceu atrás da média da América Latina (19,4%) e muito abaixo da média global (26,2%). Ou seja, ela não chegou nem à metade da média das principais economias emergentes (32,7%).

Retomada dos investimentos pós-pandemia

A equipe do ministro da Economia, Paulo Guedes, aposta na queda da taxa de juros para patamares inéditos. E também aplica isso nos programas de concessões de infraestrutura e privatizações de estatais, além da aprovação de novos marcos regulatórios em saneamento, energia elétrica, gás natural e petróleo.

Quadro incerto

Para o coordenador do Núcleo de Contas Nacionais (NCN) do FGV-Ibre e ex-secretário de Política Econômica do Ministério da Fazenda, Claudio Considera, as incertezas sobre recrudescimento da curva de contágio da Covid-19 podem adiar as decisões dos investidores.

“Uma segunda onda da pandemia seria um grande desastre. É preciso que se encontre logo uma vacina ou um tratamento eficaz, pois ainda não temos nem um nem outro”, afirma Considera. “Mesmo assim, não acredito que a economia vai voltar com gráfico em forma ‘V’ (retomada no mesmo ritmo rápido da queda). O PIB deve cair em torno de 5% neste ano e vai voltar a crescer a 1% como estava antes. Ou seja, vai ser em forma de uma ‘raiz quadrada’.”

Por fim, o economista alerta que a recente crise política entre Guedes e o presidente da Câmara dos Deputados, Rodrigo Maia, também espanta os investidores do país:

“O governo não consegue negociar as reformas. É espantoso que as autoridades não conversem entre si. Com isso, a reforma tributária não anda, e se torna uma ameaça para as empresas, que não sabem qual será o lucro líquido dos investimentos no longo prazo. Ninguém investe desse jeito.”

*Foto: Divulgação

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