Na manhã de ontem (24), o mercado financeiro ficou impactado com a nova campanha publicitária do Itaú Unibanco. O comercial dá a conotação que o Itaú investe contra corretoras independentes de investimento, que ficaram em evidência nos últimos anos e têm sido rival sobre os serviços oferecidos até então apenas pelos bancos, como é o caso da instituição quase centenária.
Itaú investe contra corretoras
A afronta sobrou até para a corretora XP Investimentos, que possui US$ 38 bilhões em ativos sob gestão. A companhia criada por Guilherme Benchimol, em 2001, tem o Itaú como detentor de 49,9% da empresa.
Na campanha publicitária do Itaú Personnalité, segmento de negócios de alta renda do banco, a instituição coloca em xeque o discurso das concorrentes. O filme estreou na noite de terça-feira (23), no intervalo do “Jornal Nacional”, da Rede Globo.
Filme publicitário
Em um dos trechos do comercial de 30 segundos o ator diz:
“A moda aqui, em 2019, é ter conta em corretora.”
Na sequência:
“Assessor também tá na moda. Insiste o tempo todo: ‘Investe nisso, investe naquilo. Não tem risco’. Estou me sentindo o rei de Wall Street.”
Por fim, o mesmo ator, porém, agora no ano de 2020, supostamente após uma queda nos mercados, afirma:
“Aqui, em 2020, deu pra ver que não tinha risco para ele [o assessor], que ganha comissão por tipo de investimento. Ainda bem que você deixou o dinheiro no Itaú Personnalité, que tem especialistas isentos.”
Três pilares
Em uma única tacada, o Itaú atacou três pilares em que os agentes independentes se apoiam para combater a concorrência bancária e conquistar uma fatia do mercado de investimentos. Um deles diz respeito à diversidade de produtos.
Vale ressaltar que em julho do ano passado, o Itaú se uniu ao Mercado Livre e Visa para lançar um cartão de crédito internacional e sem anuidade.
Já as corretoras dizem trabalhar com uma variedade bem maior de opções de investimentos do que os bancos, que são acusados de oferecerem somente os seus próprios produtos. A segunda questiona o sistema de comissionamento, pois como as empresas independentes são comissionadas, o Itaú quer saber se elas seriam realmente isentas nas ofertas realizadas aos clientes. E em terceiro, sobre a agilidade tecnológica propagada pelos corretores como vantagem na hora de estabelecer uma carteira.
Além disso, o diretor-executivo de varejo do Itaú, André Rodrigues, afirmou à imprensa que os assessores das corretoras independentes são remunerados conforme o rendimento dos produtos ofertados aos clientes e que, como uns oferecem rebates maiores do que os outros, a recomendação acabaria não sendo completamente imparcial. E também explicou que, no caso dos bancos, os agentes e assessores têm uma remuneração fixa, modelo que colabora para indicações totalmente isentas.
Posicionamento de Benchimol
Benchimol se pronunciou por meio de um post no LinkedIn:
“Estamos há 20 anos lutando contra um sistema financeiro concentrado que nunca inovou e nunca se preocupou com o que realmente importa: o cliente. Tenho certeza que os bancos preferem o Brasil do passado, com juros altos e baixa concorrência, explorando ainda mais os empresários e os investidores individuais.”
E ainda questionou:
“Quem nunca recebeu uma oferta do seu banco com um cheque especial abusivo, um empréstimo com as mais altas taxas de juros do mundo, um ‘investimento’ na caderneta de poupança, um título de capitalização desnecessário, um fundo com taxas exorbitantes, um consórcio para bater a meta do fim do mês e assim por diante?.”
Benchimol finalizou da seguinte forma:
“A campanha do Itaú só reforça que estamos no caminho certo. Para o maior banco do país, com mais de 90 anos de tradição, ir a público e ofender uma profissão tão fundamental para o desenvolvimento financeiro dos brasileiros é porque realmente percebeu que não consegue mais competir colocando o cliente em primeiro lugar. Tenho uma certeza: se tem algo que o banco não é, nem nunca foi, é ser feito para você. Apesar de toda a nossa história, estamos só no começo. Podem ter certeza de que não descansaremos enquanto todos os abusos dos bancos não acabarem.”
Fonte: Forbes Brasil
*Foto: Divulgação